segunda-feira, 19 de abril de 2010

Eu e o adultério.


Minha história com a traição em relacionamentos amorosos já vem de longa data. Eu mesmo sou fruto de uma traição. E vos digo que não há nada melhor do que ser livre de preceitos e instituições sociais opressoras como o casamento. Eis como se deu tudo.

Meu pai namorava uma mulher chamada Carolina há dois anos, ele morava numa rua periférica como qualquer outra, na qual todas as tragédias do jornalismo carniceiro passam-se logo ao lado, mas nunca ali. Numa realidade dessas foi que meu pai conheceu sua vizinha da frente. Dona Helena (Leninha ou Lê para os íntimos naquela época) que naquela época tinha seus 20 e tantos anos. Conversavam constantemente, identificaram gostos em comum e pronto. Logo se apaixonaram, não a paixão dos grandes romances, não, aquilo não era paixão, era tesão. Esse tesão deu origem a esse que vos fala, sementinha do mal na vida da pobre Carolina que nada mais fez que apaixonar pelo ideal que a mente dela projetava sobre meu pai.

Tempos depois meu pai terminou o namoro com Carolina, ou foi ao menos o que ele disse ter feito, e assumiu minha mãe com dois filhos de um ex-marido. Fomos felizes durante os anos em que eu não tinha idéia do que acontecia à minha volta, éramos uma típica família suburbana dos anos 80, eu, meu irmão e minha irmã que era a mais velha, tinha ela uns 15 anos nessa época. Mas infelizmente meu pai tinha uma leve queda por substâncias fermentadas a base de cevada e malte. É, o velho era chegado numa cerveja, mas nunca foi violento, apenas inconseqüente. Um dia, depois de ter tomado algumas, ele foi pra casa para fazer como sempre fazia após beber, deitar e roncar até as 4 horas da manhã, hora em que ele tinha de ir trabalhar. Nesse dia ele entrou pela sala onde minha irmã dormia de bruços e num gesto, que para mim até hoje é uma incógnita, passou a mão pelos cabelos e num único movimento foi até o calcanhar dela, caminhou até o quarto e deitou-se.

Nessa noite ele acordou um pouco antes que o costumeiro, deparou-se com o rosto severo de minha mãe. No dia seguinte, voltava ele para a casa de minha avó. Pouco tempo depois ele voltava a namorar Carolina. Muitas mulheres da minha geração ao ler este trecho podem se revoltar com tal atitude, mas eu vos digo, mulheres não se zanguem com uma pobre alma apaixonada e telespectadora de novelas, quem pode culpa-lá? Enfim, viveram outra vez aquele amor utópico e existente apenas nas pobres mentes alienadas pelas idéias pré-concebidas de um amor que é um grande jardim florido e feliz, que é uma visão que chega a ser broxante. Não me vejo fazendo sexo num lugar como esse, iria ficar com medo de conspurcar linda obra do eterno. Tempos depois ele acabou indo morar com ela, mais tarde eu acabei indo pra lá também e passei uma boa parte da infância odiando aquela mulher que nada simpatizava com a minha pessoa. Eu compensava esse ódio relembrando todas as vezes que, antes de irmos morar com ela, meu pai me levava para passeios com as amantes dele, era uma maravilha. Nunca vou esquecer um dos episódios que depois de passados e vistos por uma óptica mais madura, se tornara dos mais cômicos, os quais por sinal sempre me fazem lembrar com alegria de meu velho.

Dias depois de ter ido morar com Carolina, uma de suas amantes, essa chamada Débora, bateu tarde da noite na porta da casa onde eu morava com meus avós e tios. Ela estava furiosa, mas óbvio não era comigo, exigia com a maior das doçuras, que eu a levasse a casa de Carolina. Levei claro, lembre-se homens, todas as mulheres merecem nossa gentileza, sobretudo uma tão linda quanto aquela. Meu pai sagaz como sempre, conseguiu dar um jeito de sair deixando Carolina apenas com a dúvida. Tudo voltou aos seus lugares. Depois que fui morar com eles nada de muito mais aconteceu em minha vida até meus 11 anos que foi quando passei a morar com minha mãe no interior de SP.

Foram memoráveis esses dias, minha primeira paixonite, minha primeira namorada, minha primeira transa, meus primeiros chifres, minhas primeiras traições. Minha primeira namorada depois de alguns meses de namoro me traiu com quatro caras diferentes em um único dia, é ao menos o que reza a lenda. Na época achei trágico, mas hoje até você deve estar rindo aí. Claro, grandessíssimo filha da puta que sou, eu não deixei barato e num dia de gincana na escola terminei com ela e no momento seguinte estava já a paquerar outra. Foi maravilhoso me senti o rei da montanha, levei a garota para uma das salas que estavam vazias e ali ficamos, o beijo não foi o melhor da minha vida, mas o gosto que me proporcionou depois foi realmente esplendido. Foi a primeira vez que pude vislumbrar que tipo de loucuras pessoas apaixonadas podem fazer. Vi duas amigas de Raquel (era esse o nome da jovem adúltera) me chamando de longe. E imaginem qual não foi minha surpresa quando via que ela estava com um caco de vidro tentando cortar os pulsos. Se é uma das qualidades que sempre hei de admirar nela é essa, ela era intensa. Daí por diante nunca mais minha visão sobre relações amorosas fora a mesma. Para cada namorada nova 3 ou 4 outras garotas, que em geral eram amigas dessas novas namoradas, surgiam para fazer amizade e por daí todo o resto qualquer um consegue prever. Mas minha leitora casta e monógama, por favor, me entenda, não se trata de ser o dito cafajeste, nem você meu leitor pobre de vivencias e desprovido de atributos sedutores, não se vanglorie por mim por me ver “comedor”, aos dois respondo ao mesmo tempo que se trata de algo muito mais simples. Se uma mulher é gentil o bastante para te beijar você tem de beijar-lhe de volta, é uma questão de cavalheirismo e gratidão.

Passaram-se mais ou menos uns 8 ou 9 anos desde meu primeiro beijo com Raquel, mas um ano atrás voltei para aquela mesma cidadezinha (acabei por omitir o fato de que anos depois acabei voltando para São Paulo) para passar umas férias e adivinhem quem os bons ventos me trouxeram? Pois bem, estava ela agora casada com um rapaz de quase a mesma idade que ela, jogava basquete no time da cidade e trabalhava numa fabrica de sapatos das redondezas do bairro industrial da cidade. Teve um filho que num dado momento foi motivo de sátira quando ela disse que poderia ser meu. Tivemos alguns encontros fortuitos nas noites em que ela fingia sair com as amigas que, por algum motivo que ignoro, a apoiavam. Mas logo era hora de voltar para São Paulo

Desde então as coisas não mudaram muito, atualmente estou solteiro moralmente, mas tenho um caso com a esposa de um vizinho meu. Que creio, logo irá acabar, não acredito em relacionamentos muito longos. Pois essa é a filosofia que mais se deveria propagar pelas mentes do mundo afora, pois nada melhor do que se ter a liberdade para se amar de qualquer que seja maneira, não preciso de nenhum paradigma social baseado em preceitos judaico-cristãos para me dizer como devo amar. Pois o amor não é isso, ele é justamente o oposto, pura contradição é “fogo que queima sem arder, é um não contentar-se de contente” e se eu tiver de amar mais do que uma pessoa que seja, se quiser apenas fazer um sexo sem compromisso, porém consensual, que seja. E se eu tiver de amar uma mulher apenas que seja farei o possível para dar-lhe toda a felicidade, mas se eu quiser outra, por quê não? E se ela também quiser se aventurar nos mares desconhecidos de outro homem, que ele seja melhor que eu para que se valha.
Pois eu vivi durante anos casado e convivendo com outros casais e sabe o que é o casamento? É uma droga de uma velha virgem sentada numa cadeira de balanço, a falar mal da vida alheia, ouvindo Roberto Carlos apenas esperando a hora da morte. Por quê se prender? Já temos de obedecer a tantas leis, a vida é tão curta, ora, vivamos então.